A convite do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), o presidente do FOAESP, Rodrigo Pinheiro, participa, na Cidade do Panamá, do evento Proteção Social para o HIV na América Latina e Caribe.

Convidado a levar uma mensagem do Brasil ao evento, Pinheiro cobrou em sua fala maior empenho do UNAIDS ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 1, sobre o combate à fome e a erradicação da pobreza.

Confira abaixo a íntegra da fala do presidente do FOAESP no evento do UNAIDS no Panamá.


Senhoras e senhores,

Quero agradecer ao convite e a oportunidade de me dirigir às lideranças aqui presentes para uma reflexão importante e iminente. Do Brasil, de onde venho, a realidade impõe novas estratégias e reivindica uma luta conjunta: não se pode falar em controle da aids sem combater a pobreza que assola grande parte das populações vulneráveis, não se pode falar de pobreza sem falar em aids, sombra que cresce nas periferias, nas favelas, nos bolsões que rodeiam as grandes cidades.

Este dado tem chamado a atenção e mostrado uma face ainda mais perversa da realidade. O crescimento da aids entre as populações mais pauperizadas torna o quadro de exclusão ainda pior. Um jovem homossexual terá sua vulnerabilidade multiplicada se for negro, se viver na periferia de uma grande cidade e se sua família for religiosa.

Da mesma forma, as pessoas em situação de rua, as desempregadas, as vítimas da exclusão e das famílias sobrevivendo sem condições mínimas de dignidade, que circulam nas regiões metropolitanas, sentem cada vez mais a problemática da aids avançar em seu cotidiano. Não podemos desconsiderar que a pobreza é um agravante sobre o estigma que aumenta as vulnerabilidades dessas populações. A exclusão pela sorologia ou orientação sexual se torna maior diante da pobreza, pesando de forma mais intensa e gerando menos autoestima e menor autonomia.

Às dificuldades de acesso aos serviços de saúde, ao diagnóstico, ao tratamento e aos medicamentos se soma a carência de alimentação, de saneamento, de educação de qualidade e, sobretudo, de oportunidade de emprego e renda.

Infelizmente, a conjunção de esforços que contemplem esta intersecção não prospera, o que aumenta consideravelmente as vulnerabilidades sociais. As ações de governo ainda teimam em ignorar a pauperização da aids, inclusive nas campanhas publicitárias massivas nas quais opta-se por rostos jovens e sorridentes que exibem um mundo ideal bem diferente da realidade que bate nas portas das organizações comunitárias, talvez as únicas que as acolha após encontrarem tantas outras fechadas.

A ação conjunta de iniciativas governamentais e não governamentais é o caminho para tentar amenizar esta problemática. Enquanto as áreas de saúde, assistência, educação e combate à fome – entre outras – não estiverem integradas, somando esforços, continuará o compartilhamento de projetos que, de forma isolada, pouco ou nada resultam em benefício de quem mais os necessita.

Da mesma forma, as agências da ONU, sobretudo a UNAIDS, devem se engajar ainda mais no enfrentamento deste cruel cruzamento. Um caminho é a priorização do combate à fome e erradicação da pobreza, primeiro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015.

A sociedade civil e o movimento social de luta contra a aids têm chamado a atenção para esta realidade já há algum tempo. Esperávamos integração de agendas e respostas efetivas, principalmente para os mais excluídos. Infelizmente, as barreiras encontradas surpreendem principalmente pela falta de vontade política existente.

Com a evidente vulnerabilidade dos mais pobres, alvos constantes do preconceito e da exclusão, corremos o risco de ampliar o abismo social já existente no Brasil e na América Latina. A integração de bandeiras e ações se faz necessária neste momento, sobretudo quando os ventos conservadores sopram mais fortes, cujos reflexos se fazem sentir nas posturas de entendimento e solução destas questões. No Brasil, a preocupação é maior diante das incertezas com o novo governo, que tomará posse em janeiro, principalmente com a ameaça de retrocesso das políticas públicas existentes.

Do Brasil trazemos esta proposta, a América Latina pobre clama por justiça social, por inclusão, por mais comida na mesa, por saúde de qualidade, por vida. Temos que começar a fazer a diferença. Não podemos esquecer de ninguém.

Muito obrigado.